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Texto 1- Conectivismo: Uma Teoria de Aprendizagem para a Idade Digital" de George Siemens !


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Sobre o Texto 1 - CONECTIVISMO: Uma Teoria de Aprendizagem para a Idade Digital (SIEMENS, 2004), o autor apresenta uma discussão sobre as teorias de aprendizagem existentes e o que está sendo chamado de Conectivismo. A noção de conectivismo tem implicações em todos os aspectos da vida e este documento foca principalmente no seu impacto na aprendizagem mediada pelas tecnologias. Siemens escreve que as 3 teorias da aprendizagem que conhecemos: Behaviorismo, Cognitivismo e Construtivismo, foram desenvolvidas em um tempo em que a aprendizagem não sofria o impacto das tecnologias e, estas teorias não estão dando conta dos avanços tecnológicos em que vivemos atualmente. Estas teorias foram pensadas para tentar explicar como é que uma pessoa aprende.

Siemens afirma que nos últimos 20 anos, as tecnologias reorganizaram o modo como vivemos, como nos comunicamos e como aprendemos. Isso é fato ! Há 40 anos atrás, os estudantes concluíam os estudos e iniciavam uma carreira profissional para a vida toda até a aposentadoria. Nessa época, o desenvolvimento das informações era muito lento, a duração do conhecimento novo era medida em décadas. Hoje, o conhecimento está crescendo exponencialmente, a quantidade de conhecimento produzido no mundo dobrou nos últimos 10 anos.

O que pode ser observado, é que nos dias de hoje e com a tecnologia que tempos disponível, a aprendizagem ocorre de várias maneiras e não necessariamente na escola:

- comunidades de prática
- redes pessoais

O autor traz algumas tendências importantes na aprendizagem:

1) A aprendizagem informal é um aspecto significativo. A educação formal não cobre mais a maioria da nossa aprendizagem.

2) A aprendizagem é um processo contínuo, durando por toda a vida. Aprendizagem e atividades relacionadas ao trabalho não são mais separadas, são conjuntas.

3) A tecnologia está alterando o nosso cérebro - reestruturando-o. As ferramentas que usamos definem e moldam nosso modo de pensar. O jornalista americano Nicholas Carr - publicou o livro "O que a internet está fazendo com os nossos cérebros - a geração superficial", é o principal crítico cultural do mundo digital. O livro nasceu de um artigo polêmico que o autor publicou em 2008, chamado: "O Google está nos deixando burros ?"  A tese central de Nicholas Carr é que ao nos ensinar a ler de outra forma: mais veloz, horizontal, volúvel, interativa, baseada na satisfação imediata, a tecnologia digital está reprogramando as nossas mentes no nível bioquímico devido a uma característica do cérebro chamada de Neuroplasticidade. Em consequência disso, a capacidade da espécie humana de acompanhar raciocínios longos e mergulhar sem distração na solução de um problema complexo pode estar simplesmente em vias de extinção. Nicholas Carr fala que o cérebro ficou mais destatento, a atenção diminuiu, a pessoa faz várias ao mesmo tempo, o cérebro terá se adaptar ao virtual.

4) A organização e o indivíduo são ambos organismos que aprendem. A atenção à gestão do conhecimento ressalta a necessidade de uma teoria que tente explicar a ligação entre aprendizagem individual e organizacional.

Driscoll (2000) define aprendizagem como:

"uma mudança persistente na performance ou no potencial para performance ... [que] deve surgir como resultado da experiência e interação do aprendiz com o mundo".


Driscoll (2000) ainda explora algumas complexidades de definir aprendizagem:

1) Fontes válidas de conhecimento ? Adquirimos conhecimento através de experiências? Isso é inato (presente no nascimento)? Adquirimos isso através do pensar e raciocinar?

2) Conteúdo do conhecimento ? O conhecimento é, realmente, possível de ser conhecido? Ele é possível de ser conhecido diretamente através da experiência humana?

3)
3.1 Objetivismo (semelhante ao behaviorismo) prega que a realidade é externa e é objetiva, e o conhecimento é obtido através de experiências.

3.2 Pragmatismo (semelhante ao cognitivismo) prega que a realidade é interpretada, e o conhecimento é negociado através da experiência e raciocínio.

3.3 Interpretivismo (semelhante ao construtivismo) prega que a realidade é interna, e o conhecimento é construído.

Todas essas teorias da aprendizagem sustentam a noção de que o conhecimento é um objetivo que pode ser alcançado (se já não for inato) ou através do raciocínio ou das experiências.

O behaviorismo, cognitivismo e construtivismo (construídos na tradição epistemológica) tentam explicar como é que uma pessoa aprende. O behaviorismo prega que a aprendizagem é, em grande parte, impossível de conhecer, isto é, possivelmente não podemos entender o que se passa dentro de uma pessoa (a “teoria da caixa preta”).

Limitações do Behaviorismo, Cognitivismo e Construtivismo

Um dogma central da maioria das teorias de aprendizagem é que a aprendizagem ocorre dentro da pessoa. Mesmo a visão construtivista social, que defende que a aprendizagem é um processo realizado socialmente.

Estas teorias não abordam a aprendizagem que ocorre fora da pessoa (i.e. aprendizagem que é armazenada e manipulada através da tecnologia). Elas também falham em descrever como a aprendizagem acontece dentro das organizações.

As teorias da aprendizagem estão preocupadas com o processo atual de aprendizagem, não com o valor do que está sendo aprendido.

Em um mundo ligado em rede, a espécie exata de informação que adquirimos é explorando a sua importância. A necessidade de avaliar a importância de aprender alguma coisa é uma meta-habilidade que é aplicada antes da própria aprendizagem começar.

A habilidade de sintetizar e reconhecer conexões e padrões é uma habilidade valiosa.

Muitas questões importantes são levantadas quando as teorias da aprendizagem estabelecidas são vistas através da tecnologia. A tentativa natural dos teóricos é continuar a revisar e desenvolver as teorias na medida em que as condições mudam. Em algum ponto, no entanto, as condições subjacentes se alteraram tão significativamente, que as modificações posteriores não são mais perceptíveis. É necessária uma abordagem inteiramente nova.

Algumas questões a serem exploradas em relação às teorias da aprendizagem e o impacto da tecnologia e das novas ciências (caos e redes) na aprendizagem:

1) Como as teorias da aprendizagem são impactadas quando o conhecimento não é mais adquirido de maneira linear?

2) Que ajuste é necessário fazer nas teorias da aprendizagem quando a tecnologia realiza   muitas das operações cognitivas anteriormente realizadas pelos aprendizes (armazenamento e recuperação de informação)?

3) Como podemos nos manter atualizados em uma ecologia da informação que evolui rapidamente?

4) Como as teorias da aprendizagem lidam com momentos onde o desempenho é necessário, na ausência de uma compreensão completa?

5) Qual o impacto das redes e teorias da complexidade na aprendizagem?

6) Qual é o impacto do caos como um processo complexo de reconhecimento de padrões na aprendizagem?

7) Com o aumento do reconhecimento das interconexões em diferentes campos de conhecimento, como os sistemas e teorias da ecologia são percebidos à luz das tarefas de aprendizagem?


Uma Teoria Alternativa

A chegada das tecnologias na sociedade começa a mover as teorias de aprendizagem para a era da cultura digital, pois alcançamos as nossas competências como resultado da formação de conexões. Isso também é fato !

Stephenson (2004) afirma que:

“A experiência tem sido considerada, há muito tempo, o melhor professor para o conhecimento. Desde que não podemos experimentar tudo, as experiências de outras pessoas e portanto, outras pessoas, tornam-se o substituto para o conhecimento. ´Eu guardo meu conhecimento em meus amigos` é um axioma para juntar conhecimento juntando pessoas (não datado).”

Ao contrário do construtivismo, que afirma que os aprendizes tentam promover a compreensão através de tarefas de construção de significados, o caos afirma que os significados existem – o desafio dos aprendizes é reconhecer os padrões que parecem estar ocultos. A construção de significados e a formação de conexões entre comunidades especializadas são atividades importantes.

O caos, como ciência, reconhece as conexões de tudo com tudo. Gleick (1987, p. 08) afirma: “Em condições atmosféricas, por exemplo, pode ser traduzido naquilo que é conhecido meio jocosamente como o Efeito Borboleta – a noção de que uma borboleta agitando o ar hoje em Pequim pode mudar sistemas de tempestade no mês seguinte em Nova Iorque".

Esta analogia ressalta um desafio real: “a grande dependência das condições iniciais” impacta profundamente aquilo que aprendemos e como agimos, baseados em nossa aprendizagem. A tomada de decisão ilustra isso. Se as condições subjacentes usadas para tomar as decisões mudam, a própria decisão não é mais tão
correta como era quando foi tomada. A habilidade de reconhecer e se ajustar às mudanças nos padrões é uma tarefa chave da aprendizagem.


Para aprender, em nossa economia do conhecimento, é necessário ter a capacidade de formar conexões entre fontes de informação e daí criar padrões de informação úteis.

Redes, Pequenos Mundos, Ligações Fracas

Uma rede pode, simplesmente, ser definida como conexões entre entidades. Redes de computadores, grades de poder e redes sociais, todas funcionam através do princípio simples de que as pessoas, grupos, sistemas, nós, entidades podem ser conectadas para criar um todo integrado. Alterações dentro da rede têm efeitos de onda no todo.

Barabási (2002) afirma que “os nós sempre competem por conexões porque ligações representam sobrevivência em um mundo interconectado” (2002, p.106).

Esta competição é grandemente embotada dentro de uma rede de aprendizagem pessoal, mas a atribuição de valor a certos nós em detrimento de outros é uma realidade. Os nós que conseguem alcançar maior importância serão mais bem sucedidos em conseguir conexões adicionais. Em termos de aprendizagem, a probabilidade de que um conceito de aprendizagem será ligado depende de quão bem ele está atualmente ligado. Os nós (podem ser áreas, idéias, comunidades) que se especializam e ganham reconhecimento por sua especialização tem maiores chances de reconhecimento, resultando assim na polinização cruzada de comunidades de aprendizagem. Vínculos fracos são ligações ou pontes que permitem conexões curtas entre informações. As redes de nosso pequeno mundo são, geralmente, habitadas por pessoas cujos interesses e conhecimento são semelhantes aos nossos. Encontrar um novo emprego, por exemplo, freqüentemente ocorre através de vínculos fracos. Este princípio tem grande destaque na noção de serendipidade, inovação
e criatividade. Conexões entre idéias e campos muito diferentes podem criar novas inovações.

Conectivismo

Conectivismo é a integração de princípios explorados pelo caos, rede, e teorias da complexidade e auto-organização. A aprendizagem é um processo que ocorre dentro de ambientes nebulosos onde os elementos centrais estão em mudança – não inteiramente sob o controle das pessoas. A aprendizagem (definida como conhecimento acionável) pode residir fora de nós mesmos (dentro de uma organização ou base de dados), é focada em conectar conjuntos de informações especializados, e as conexões que nos capacitam a aprender mais são mais importantes que nosso estado atual de conhecimento.

O conectivismo é guiado pela noção de que as decisões são baseadas em fundamentos que mudam rapidamente. Novas informações estão sendo continuamente adquiridas. A habilidade de distinguir entre informações importantes e não importantes é vital. A habilidade de reconhecer quando novas informações alteram o panorama baseado em decisões tomadas ontem, também é crítica.

Princípios do Conectivismo

1) Aprendizagem e conhecimento apoiam-se na diversidade de opiniões. 
2) Aprendizagem é um processo de conectar nós especializados ou fontes de informação. 
3) Aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos.
4) A capacidade de saber mais é maias crítica do que aquilo que é conhecido atualmente.
5) É necessário cultivar e manter conexões para facilitar a aprendizagem contínua.
6) A habilidade de enxergar conexões entre áreas, ideias e conceitos é uma habilidade fundamental. 
7) Atualização ("currency" - conhecimento acurado e em dia) é a intenção de todas as atividades de aprendizagem conectivistas.
8) A tomada de decisão é, por si só, um processo de aprendizagem. Escolher o que aprender e o significado das informações que chegam é enxergar através das lentes de uma realidade em mudança. Apesar de haver uma resposta certa agora, ela pode ser errada amanhã devido a mudanças nas condições que cercam a informação e que afetam a decisão. 


REFERÊNCIAS

Barabási, A. L., (2002). Linked: The New Science of Networks, Cambridge, MA, Perseus Publishing.

Driscoll, M. (2000)Psychology of Learning for Instruction. Needham Heights, MA, Allyn & Bacon.

Gleick, J., (1987). Chaos: The Making of a New Science. New York, NY, Penguin Books.

Siemens, G. (2004). Connectivism: a learning theory for the digital age. Disponível em: http://www.elearnspace.org/Articles/connectivism.htm, com acesso em 07 out 2013).

Stephenson, K. (2004). What Knowledge Tears Apart, Networks Make Whole. Internal Communication, no. 36. Disponível em http://www.netform.com/html/icf.pdf, com acesso em 07 out 2013.

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