A Construção do Conhecimento na Educação a Distância: Reflexões sobre a Importância do Conceito de Interação !
Abstract. This study is the result of a few thoughts and
considerations during my practice as a tutoring-teacher, at distance learning
classes with undergraduate courses at Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS), as well as e-tutor in some extension courses promoted by the
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) and the Universidade Aberta
do Brasil (UAB). Such remarks were based on courses offered at 100-%- distance
learning, from 2010/2 to 2012/1. The goal of this paper is to reflect on
the importance of the concept for mutual interaction in virtual learning
environments, in distance education courses, aiming at the construction of
knowledge and virtual students' learning."
Resumo. Este
artigo é resultado das reflexões realizadas como professora tutora, na
graduação a distância, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), e
como tutora a distância, nos cursos de extensão, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Aberta do Brasil (UAB). As observações
foram realizadas tendo como base as turmas dos cursos oferecidos na modalidade
100% a distância, no período de 2011/1 a 2012/1. O objetivo deste artigo é
refletir sobre a importância do conceito de interação mútua em ambientes
virtuais de aprendizagem, na educação a distância, visando a construção do
conhecimento e a aprendizagem dos estudantes virtuais.
Palavras-chave: Aprendizagem, Interação, Mediação Pedagógica, Educação a Distância.
Palavras-chave: Aprendizagem, Interação, Mediação Pedagógica, Educação a Distância.
1. Introdução
A oferta de cursos de
graduação, pós-graduação e extensão, na modalidade a distância, está tendo um
crescimento expressivo nos últimos anos. Os resultados
do censo da educação superior divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em dezembro de 2007, mostram que
de 2003 a 2006, houve um aumento de 571% em número de cursos oferecidos na
modalidade a distância e de 315% no número de matrículas nesta modalidade. Os
dados do censo apontam ainda que, em 2005, os estudantes da educação a
distância representavam 2,6% do universo de estudantes brasileiros, e em 2006,
essa participação passou a ser de 4,4% (INEP, 2008).
Segundo
o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (AbraEAD), é
possível constatar que as instituições de ensino brasileiras atenderam um total
de mais de 2,5 milhões de estudantes em cursos desenvolvidos na modalidade a
distância no ano de 2007 (AbraEAD, 2008). Este levantamento de dados incluiu não
somente estudantes matriculados em cursos de instituições credenciadas pelo
sistema de ensino brasileiro, mas também, em projetos de importância regional
ou nacional, como os promovidos pela Fundação Bradesco, Fundação Roberto
Marinho e do Grupo S (SESI, SENAI, SENAC e SEBRAE).
O censo de 2010 mostra um crescimento ainda
maior no que diz respeito ao número de concluintes, matrículas e oferta de
cursos superiores desenvolvidos na modalidade a distância no Brasil. Segundo as
Sinopses Estatísticas da Educação Superior, publicadas no portal do INEP (INEP,
2011), o país teve um total de 144.553 estudantes concluintes do ensino
superior, egressos de um total de 930 cursos de graduação e 930.179 matrículas
realizadas. Este panorama aponta para uma preocupação com a qualidade dos
cursos de forma geral. Esta qualidade pode ser observada a partir do desempenho
dos estudantes em exames nacionais, como a prova do ENADE – Exame Nacional do
Desempenho dos Estudantes do Ensino Superior. A aprendizagem dos estudantes, a
avaliação desta aprendizagem e a mediação pedagógica por parte dos professores
e tutores, são fatores importantes a serem considerados quando se trata da
qualidade de um curso a distância.
A partir deste contexto e pensando na qualidade
dos cursos oferecidos nesta modalidade, o objetivo deste artigo é refletir
sobre a importância do conceito de interação e a sua relação com a construção do conhecimento
em ambientes virtuais de aprendizagem, na educação a distância.
Este artigo está organizado em quatro seções, além da Introdução. A seção
2 apresenta os conceitos teóricos que fundamentam as reflexões apresentadas, na
seção 3 é apresentado a metodologia e estudo de caso com uma turma da graduação
a distância. A seção 4 apresenta as considerações finais, e em seguida, as
referências bibliográficas são relacionadas.
2. Fundamentação Teórica
Quando o assunto é a construção do conhecimento na educação a distância faz-se necessário ter em mente conceitos que são importantes para que possamos compreender o processo de aprender a distância e o aprender mediado pelas tecnologias digitais. Neste artigo, são discutidos os conceitos de interação e interação mútua com as suas implicações na aprendizagem dos estudantes. O estudo proposto foi realizado com base em referenciais teóricos que apresentam o conceito de interação e as suas especificidades no contexto da educação a distância.
O autor Multigner (1994) apud Silva (2010) diz que “o conceito de interação vem da física,
foi incorporado pela sociologia, pela psicologia social, e finalmente, no campo
da informática transmuta-se em interatividade”. Pode-se observar que o conceito
de interação possui diferentes definições em cada área do conhecimento, e que na
informática modifica-se para o que se tem chamado de “interatividade”.
Mas o que a interação e/ou a interatividade
podem contribuir para a aprendizagem na educação a distância ?
A modalidade de ensino chamada de “educação a
distância” pode ser definida como sendo “o processo no qual a interação entre educadores
e educandos busca superar limitações de espaço e tempo com a aplicação
pedagógica de meios e tecnologias da informação e da comunicação objetivando a
qualidade do ensino e da aprendizagem”. É importante observar que o objetivo
desta modalidade de ensino, segundo Franco (2010), é a qualidade do ensino e a
aprendizagem dos estudantes. A educação a distância para ser de qualidade, garantir
a construção do conhecimento, e consequentemente, a aprendizagem dos
estudantes, precisa partir de pressupostos que consideram o diálogo como
mencionado na educação dialógica de Freire (1982).
Considerando que a construção do conhecimento
parte do pressuposto de que o estudante
tenha aprendido algo, e que para aprender, o estudante precisa desenvolver-se,
é importante salientar o que Piaget (1972, p.11) afirma quando diz que “o
desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo que se relaciona com a
totalidade de estruturas do conhecimento. A
aprendizagem, em geral, é provocada por situações externas. O desenvolvimento explica a aprendizagem, e é
um processo essencial onde cada elemento da aprendizagem ocorre como uma função
do desenvolvimento total, portanto, a aprendizagem está subordinada ao
desenvolvimento. A aprendizagem somente ocorre quando há, da parte do sujeito,
uma assimilação ativa, quando toda a ênfase é colocada na atividade do próprio
sujeito”. Piaget, ainda ressalta que sem essa atividade do sujeito, “não há
possível didática ou pedagogia que transforme significativamente o sujeito”.
O que Jean Piaget afirma é que o sujeito
precisa ser ativo, responsável pela sua aprendizagem, ter vontade e interesse
em aprender e continuar aprendendo. E que se o sujeito não aprende, não se
desenvolve, não se modifica e não há construção do conhecimento.
Diante do exposto, constata-se a importância do
conceito de interação para a aprendizagem
do estudante. Pois, acredita-se que a
aprendizagem se constitui a partir do momento em que o estudante se envolve com
o objeto em estudo, questionando, refletindo, tendo dúvidas, reforçando
certezas, apontando erros e acertos, comparando hipóteses, classificando,
selecionando argumentos, e compartilhando as experiências com os seus pares e
professores. É a partir desse momento, que o estudante está envolvido com o
processo de descoberta do conhecimento novo, que a aprendizagem se efetiva.
O biólogo Humberto Maturana (2001, p.123), ainda
diz que “a aprendizagem é a transformação de cada sujeito em virtude de
suas interações recorrentes, as
quais se efetivam no âmbito social e o conhecimento é sempre adquirido na convivência”.
Na educação a distância, a mediação pedagógica
é feita a partir do uso de ambientes virtuais de aprendizagem, que são espaços
digitais online para a comunicação entre professores e estudantes. Nesta
modalidade quem faz a mediação pedagógica é o professor tutor ou também chamado
de tutor a distância.
A professora Eliane Schlemmer (2002) afirma que
estes ambientes virtuais são sistemas computacionais que se constituem em um
espaço digital virtual que proporciona interações
entre os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem online, que são
os professores, professores tutores e estudantes.
Os autores Bona, Fagundes e Basso (2011)
apontam que os ambientes virtuais precisam ser utilizados para proporcionar
novas ferramentas que facilitem a aprendizagem dos estudantes e Eliane Schlemmer
(2002) ainda diz que os ambientes virtuais suportam vários estilos de
aprendizagem, com ênfase na colaboração e cooperação.
Nesse momento, o papel do professor torna-se fundamental
no ambiente virtual, visto que é o professor o responsável pela mediação
pedagógica dos processos de interação do estudante no ambiente virtual de
aprendizagem. Na educação a distância, tem-se vários termos para designar o
papel do professor: professor autor, professor conteudista, professor formador,
professor tutor, tutor a distância ou mediador. É importante salientar que não
importa o nome dado ao papel do professor, mas é o professor a pessoa
responsável por determinar qual será a tecnologia mais adequada em cada
situação pedagógica do curso, bem como definir os objetivos com foco no meio de
comunicação que será utilizado para a interação entre
estudantes-ambiente-professor.
Por isso, na
educação a distância, a importância do conceito
de interação é observada quando os estudantes conseguem comunicar-se uns
com os outros, de uma forma bidirecional,
isto é, de uma forma onde todos comunicam-se com todos, além da comunicação com
o professor, e que esta comunicação tenha efeito nas estruturas de pensamento,
isto é, nas estruturas cognitivas do estudante. Quando a dúvida de um estudante
postada no fórum de discussão gera uma comunicação onde o estudante interage,
não somente com o professor, mas também com os seus pares, e os seus pares
interagem uns com os outros e com o professor, aqui está estabelecida a interação que contribui com a aprendizagem.
Quando esta comunicação é bidirecional, se
estabelece a construção do conhecimento e a aprendizagem do estudante.
O conceito de interação é muito importante para
os estudos que envolvem a aprendizagem na educação a distância mediada pelas
tecnologias digitais de informação e comunicação. Primo (2003, p.97, 2000),
conceitua a interação em dois tipos:
“A interação é uma série complexa de mensagens trocadas entre os
sujeitos e que há dois tipos de interação: a mútua e a reativa. A
interação mútua é a comunicação entre duas pessoas criada pela ação de
ambas. Onde uma comunica-se com a outra e as duas comunicam-se entre si (são as
ações entre duas pessoas). Trata-se, da inter + ação criada pela ação de ambas.
Isto é, a cada encontro, as ações de uma definem (ou redefinem) a relação
entre elas”.
Segundo Primo (2000), a
diferença entre a interação mútua e
a interação reativa é que a primeira
constitui uma relação recíproca de
trocas entre os atores envolvidos no processo de comunicação. E, a segunda,
as relações não se constituem. Neste
caso, é constatada uma comunicação
unidirecional, onde somente um dos atores age e os outros atores apenas
recebem a mensagem sem interferir na comunicação, nem na mensagem. A tabela 1
mostra um paralelo entre os conceitos mencionados e a obra de Freire (1982).
Tabela 1. Analogia
entre Paradigmas Educacionais, Mediação Pedagógica, Tipos de Interação e Concepção
de Educação
Paradigma
Educacional
(Moraes,
1997)
|
Mediação
Pedagógica
(Silva,
2010 e 2012)
|
Interação
(Primo,
2003)
|
Educação
(Freire,
1982)
|
Tradicional
|
Tutoria Reativa
|
Reativa
|
Bancária
|
Emergente
|
Docência
Mediadora
|
Mútua
|
Dialógica
|
Constata-se que, para auxiliar
na aprendizagem e na construção do conhecimento, a interação mútua é a forma de comunicação que deve prevalecer entre
os atores envolvidos, especialmente na Educação a Distância.
Para os Professores
Fernando Becker e Tânia Marques (2007, p. 15), “o conhecimento não acontece pela formação ou atuação do sujeito
apenas; nem por pressão do meio externo. Acontece pela interação entre o
sujeito, com sua extraordinária complexidade, e esse meio, com toda sua
complexidade”. Os autores ainda afirmam que a interação significa, fundamentalmente, “uma ação transformadora do
sujeito sobre ele mesmo”.
Para que o processo de construção do conhecimento ocorra há a necessidade
de uma “ação do estudante sobre ele mesmo” e uma profunda mudança nas relações
que se estabelecem entre professores e estudantes. Essas mudanças passam a ser
dinâmicas, com regras estipuladas pelo grupo de estudantes e pelo professor podendo
ser rompidas e restabelecidas, caso façam-se necessárias. Nessa concepção, o
professor oportuniza o acesso às informações, de forma que o estudante consiga
relacionar, os conceitos em estudo, com o que ele (estudante) já sabe. Desta
forma, o professor conduzirá o processo de aprendizagem com a postura de alguém
que seja o mediador, problematizador, instigador, orientador, articulador do
processo. Deve estar claro para o professor que é a “ação do estudante” que
realmente é importante no processo de aprendizagem na educação a distância.
Portanto, pode-se afirmar que a construção do conhecimento ocorre a partir das interações mútuas, que são significadas pelo sujeito a
partir das relações que ele
estabelece entre a nova informação e o conhecimento que possui, ocorrendo dessa
forma a aprendizagem.
Na educação a distância, a aprendizagem é efetivada a partir das trocas
sociais dos estudantes com os professores e dos estudantes com seus pares.
Estas trocas sociais mediadas pela interação mútua nos fóruns de
discussão e bate-papos é o que permite a compreensão dos conceitos e aprendizagem.
Na concepção epistemológica interacionista-construtivista-sistêmica
(Schlemmer, 2001), o professor não é o centro do processo de ensino e
aprendizagem, mas é o mediador desse processo. O conhecimento é construído a
partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, interagindo com ele,
sendo as trocas sociais condições necessárias para o desenvolvimento do
pensamento.
Jean Piaget (Piaget, 1972, p.4) afirma que "conhecer
é modificar, transformar o objeto, e compreender o processo dessa transformação,
e consequentemente, compreender o modo como o objeto é construído”.
Nesse sentido, o professor precisa incentivar
os estudantes a interagir, trabalhar em rede, de forma
colaborativa e cooperativa, desenvolvendo a autonomia e aos poucos provocar que
os seus estudantes adquiram confiança nos parceiros com os quais interagem. Nesse contexto, os ambientes virtuais de
aprendizagem são espaços nos quais os sujeitos podem se comunicar e
construir conhecimento em conjunto, pois o computador é considerado uma ferramenta de desenvolvimento cognitivo.
Fagundes, Sato e Maçada (1999, p. 79), afirmam
que “todos fazemos parte da rede, se um avança todos avançam um pouco, mas se
vários avançam, a mudança não só é maior e mais rápida, como permite nova
organização. Tanto a autonomia de cada um, como a cooperação entre todos são
fundamentais”. Essas redes de comunicação geram laços de realimentação e podem
vir a ter a capacidade de se auto-regular
e auto-organizar.
As novas modalidades de educação, chamadas de m-learning (móbile learning) , u-learning (ubiquous learning) e
b-learning (blended learning) contam com um número expressivo de
tecnologias disponíveis para uso pedagógico, assim como a educação a distância (e-learning). Todas estas modalidades
de educação, bem como as mais recentes tecnologias digitais, estão disponíveis
na sociedade atual e estão sendo utilizadas pelas instituições de ensino, tanto
na modalidade presencial, como um suporte tecnológico, quanto na modalidade a
distância.
Um aspecto importante a ser considerado quanto à importância do conceito
de interação para a aprendizagem é que a maioria dos jovens que estão
ingressando no ensino superior, nos dias de hoje, são considerados nativos digitais (Veen e Vrakking, 2009). Isto é, são pessoas que nasceram após
a década de 80, tiveram contato desde muito criança com as tecnologias
digitais, pertencem a redes sociais e fazem uso destas redes para resolver
problemas. Logo são pessoas que não pensam de forma linear. Estes jovens pensam
em rede e de maneira mais colaborativa do que as gerações anteriores.
Portanto, percebe-se a necessidade de uma mudança de paradigma
educacional: os estudantes não são mais os mesmos de anos atrás. A autora
Moraes (1997), afirma que no ensino tradicional, a aprendizagem dos estudantes
está fortemente relacionada aos conteúdos disciplinares. Os conteúdos ensinados
são resultados das disciplinas e considerados como conhecimentos a serem
transferidos aos estudantes de maneira unilateral. Pode-se observar que anos
atrás, a educação foi concebida com base na educação bancária apresentada por
Freire (1982) e na “pedagogia da transmissão” discutida por (Aparici e Silva,
2011).
Nos dias de hoje, a educação precisa ser vista como um espaço educativo
onde estudantes e professores aprendem juntos, em grupos, em rede. Por isso, no
paradigma educacional emergente (Moraes, 1997), a aprendizagem é o processo
mental pelo qual os estudantes constroem conhecimentos a partir de uma “ação do
sujeito” sobre o objeto em estudo. O conhecimento é a interpretação dos
resultados destas “ações” e a educação passa a ser dialógica como define Freire
(1982). Neste paradigma, trabalha-se a “pedagogia da interatividade” defendida
por (Aparici e Silva, 2011) onde comunicar não é transmitir informações.
Como pode ser observado, o conceito de interação é citado por vários autores das áreas da psicologia e
pedagogia, como sendo um aspecto importante a ser considerado quando se trata
de aprendizagem e desenvolvimento humano.
A seção seguinte apresenta um estudo de caso que faz a análise do
desempenho de estudantes virtuais em uma turma a distância. Esta análise é
realizada a partir das interações
nos fóruns de discussão, no ambiente virtual Moodle.
3. Metodologia
Esta seção apresenta
um relato de caso para análise e reflexão sobre a importância do conceito de interação mútua na educação
a distância. Este caso analisa três turmas, de uma atividade acadêmica, da graduação a distância, nos períodos de 2011/1 a 2012/1. A atividade acadêmica é oferecida para o primeiro semestre
do curso e se efetiva em um bimestre definido em nove semanas letivas. Foi planejada
com encontros semanais síncronos, com duração de uma hora, e suporte
tecnológico da ferramenta Chat, do
ambiente virtual Moodle. Além dessa ferramenta de interação e comunicação, outras
ferramentas foram utilizadas, tais como: fórum de discussão, mensagem
individual, e-mail e ferramenta para webconferência. A ferramenta fórum de
discussão está disponível em cada módulo de estudo, onde são discutidos os
conceitos, as dúvidas e as certezas daquele módulo. A ferramenta mensagem
individual está disponível para troca de mensagens individuais entre o
professor tutor com os estudantes ou entre os próprios estudantes.
Para início deste estudo, foi considerado o total de estudantes de cada turma (matriculados), o total de estudantes que obtiveram aprovação por média (aprovados) e o total de estudantes que não obtiveram aprovação (reprovados). A tabela 2 apresenta estes totais nas três turmas:
Tabela 2. Total de
estudantes matriculados, aprovados e reprovados
Situação dos Estudantes
|
Turma 2011/1
|
Turma 2011/2
|
Turma 2012/1
|
Matriculados
|
63
|
88
|
65
|
Aprovados
|
15
|
52
|
30
|
Reprovados
|
48
|
36
|
35
|
A tabela 3 apresenta
o percentual de aprovação e reprovação das três turmas analisadas, e o
respectivo período letivo. Observa-se que a turma 2011/1 teve um índice de
reprovação alto e que as turmas seguintes tiveram índices melhores no que diz
respeito à quantidade de estudantes aprovados e reprovados. É importante
salientar que a oferta desta atividade acadêmica na modalidade a distância teve
início no ano de 2010/1 e que em 2011/1 estava fazendo um ano desta oferta.
Isto mostra que os professores ainda estão em processo de capacitação e
formação docente, e que com a experiência de semestres anteriores, os professores
tutores foram tendo uma melhor capacitação pedagógica e uma melhor apropriação
do que é ser um professor tutor a distância. Esta melhoria se reflete em
índices melhores de aproveitamento no desempenho acadêmico dos estudantes, como
pode ser observado na tabela 3.
Tabela 3. Percentual
de aprovação e reprovação
Situação dos Estudantes
|
Turma 2011/1
|
Turma 2011/2
|
Turma 2012/1
|
Aprovados
|
23.81%
|
59.09%
|
46.15%
|
Reprovados
|
76.19%
|
40.91%
|
53.85%
|
A análise do
desempenho dos estudantes mediante analogia com o total das interações no
ambiente virtual foi realizada com a turma do período 2011/2. A tabela 4
apresenta os seis primeiros estudantes que tiveram o maior número de entradas e
cliques no ambiente virtual e a sua nota final na atividade acadêmica.
É importante
salientar que a nota final é calculada a partir da média ponderada entre a
produção do bimestre no ambiente virtual (chamada de Grau A) e a prova
presencial (chamada de Grau B) realizada no polo ao qual o estudante está
matriculado. Segundo os critérios e normas de avaliação da aprendizagem, dos
estudantes da modalidade a distância, a produção do bimestre (Grau A) tem peso de
30% na nota final e a prova presencial (Grau B), peso de 70%.
O que pode ser
observado na tabela 4, é que nem todos os estudantes que mais entraram e
clicaram no ambiente virtual, foram os que obtiveram as melhores notas finais
na atividade acadêmica. Constata-se então que, a quantidade de entradas e
cliques no ambiente virtual não garante
os melhores desempenhos acadêmicos nas avaliações presenciais.
Tabela 4. Total de
cliques realizados no ambiente virtual na turma de 2011/2
Nota Final
|
Total de Cliques no ambiente
virtual
|
9,2
|
2.143
|
6,8
|
1.653
|
7,8
|
1.458
|
9,5
|
1.363
|
6,7
|
1.358
|
6,5
|
1.332
|
Neste caso,
observa-se que a quantidade de acessos e cliques no ambiente virtual,
configurada de uma forma reativa,
conforme o conceito de interação reativa
de Primo (2003), não contribui para
a construção do conhecimento, e tão pouco para a aprendizagem. Isto quer dizer
que, mesmo o estudante tendo entrado no ambiente virtual um maior número de
vezes do que o comparado com outros estudantes, não garante a aprendizagem na
educação a distância.
Desta forma, é
possível constatar a importância do conceito de interação mútua no ambiente virtual, mediada pelo professor tutor,
a partir de uma metodologia baseada na docência mediadora e não a tutoria reativa, ambas definidas por Silva (2010).
4.
Considerações Finais
Este artigo teve como
objetivo mostrar a importância da interação
mútua na construção do conhecimento na educação a distância. Para isso foi
feito uma análise comparando o aproveitamento final dos estudantes
(conceitos/notas) com a quantidade e qualidade das interações no ambiente
virtual de aprendizagem. As interações foram observadas a partir da participação
dos estudantes nos fóruns de discussão, chats,
mensagens individuais e acessos aos materiais didáticos. A partir deste
objetivo foi definida uma turma da graduação a distância, do período 2011/2, para
o estudo de caso.
A quantidade das interações foi analisada pelo número de acessos que o
estudante fez ao ambiente virtual e ao material didático e a qualidade a partir da consistência das
mensagens e das inter-relações entre os sujeitos nos fóruns de discussão.
A partir das análises realizadas foi possível concluir que a interação constante entre professor, tutor e estudantes virtuais é potencializadora da aprendizagem dos estudantes, mas não é decisiva. Isto quer dizer que nem todo estudante que entrou e clicou várias vezes no ambiente teve resultados satisfatórios nas avaliações. Porque o estudante pode ter apenas feito vários acessos, feito upload dos materiais, mas não tendo compreendido-o. Neste caso, constata-se que houve apenas uma comunicação chamada de interação reativa.
A interação somente será importante no processo de construção do conhecimento do estudante virtual se for uma interação mútua, a partir de uma docência mediadora, numa relação de diálogo entre professor tutor e estudantes.
Desta forma, pode-se concluir que a quantidade de acessos não garante aprendizagem, nem tão pouco a construção de conhecimento. A interação somente será importante e significativa quando acontecer a partir de uma comunicação bidirecional entre os atores envolvidos no processo de aprendizagem.
Por outro lado, constatou-se também, que os estudantes que apresentaram
melhor desempenho acadêmico, foram os estudantes que mais compartilharam as
suas dúvidas e incertezas em relação ao tema estudado. Consequentemente, estes
estudantes foram os mais participativos e os que mais valorizaram os processos
de comunicação e interação entre os professores e seus pares.
Portanto, é muito importante salientar, que os planejamentos pedagógicos de novos cursos oferecidos na modalidade a distância, devem priorizar atividades que contemplem a interação mediada pelo professor tutor com os seus estudantes virtuais. Estas atividades podem ser a partir do uso das ferramentas da Web 2.0 incorporadas no ambiente virtual, além de uma formação docente consistente conscientizando os professores tutores para uma nova postura diante do estudante virtual, uma postura mediadora e pautada no diálogo.
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