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A Construção do Conhecimento na Educação a Distância: Reflexões sobre a Importância do Conceito de Interação !


Abstract. This study is the result of a few thoughts and considerations during my practice as a tutoring-teacher, at distance learning classes with undergraduate courses at Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), as well as e-tutor in some extension courses promoted by the Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) and the Universidade Aberta do Brasil (UAB). Such remarks were based on courses offered at 100-%- distance learning, from  2010/2 to 2012/1. The goal of this paper is to reflect on the importance of the concept for mutual interaction in virtual learning environments, in distance education courses, aiming at the construction of knowledge and virtual students' learning."

Resumo. Este artigo é resultado das reflexões realizadas como professora tutora, na graduação a distância, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), e como tutora a distância, nos cursos de extensão, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Aberta do Brasil (UAB). As observações foram realizadas tendo como base as turmas dos cursos oferecidos na modalidade 100% a distância, no período de 2011/1 a 2012/1. O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância do conceito de interação mútua em ambientes virtuais de aprendizagem, na educação a distância, visando a construção do conhecimento e a aprendizagem dos estudantes virtuais.

Palavras-chave: Aprendizagem, Interação, Mediação Pedagógica, Educação a Distância.

1. Introdução

A oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão, na modalidade a distância, está tendo um crescimento expressivo nos últimos anos. Os resultados do censo da educação superior divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em dezembro de 2007, mostram que de 2003 a 2006, houve um aumento de 571% em número de cursos oferecidos na modalidade a distância e de 315% no número de matrículas nesta modalidade. Os dados do censo apontam ainda que, em 2005, os estudantes da educação a distância representavam 2,6% do universo de estudantes brasileiros, e em 2006, essa participação passou a ser de 4,4% (INEP, 2008).
            Segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (AbraEAD), é possível constatar que as instituições de ensino brasileiras atenderam um total de mais de 2,5 milhões de estudantes em cursos desenvolvidos na modalidade a distância no ano de 2007 (AbraEAD, 2008). Este levantamento de dados incluiu não somente estudantes matriculados em cursos de instituições credenciadas pelo sistema de ensino brasileiro, mas também, em projetos de importância regional ou nacional, como os promovidos pela Fundação Bradesco, Fundação Roberto Marinho e do Grupo S (SESI, SENAI, SENAC e SEBRAE).
O censo de 2010 mostra um crescimento ainda maior no que diz respeito ao número de concluintes, matrículas e oferta de cursos superiores desenvolvidos na modalidade a distância no Brasil. Segundo as Sinopses Estatísticas da Educação Superior, publicadas no portal do INEP (INEP, 2011), o país teve um total de 144.553 estudantes concluintes do ensino superior, egressos de um total de 930 cursos de graduação e 930.179 matrículas realizadas. Este panorama aponta para uma preocupação com a qualidade dos cursos de forma geral. Esta qualidade pode ser observada a partir do desempenho dos estudantes em exames nacionais, como a prova do ENADE – Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes do Ensino Superior. A aprendizagem dos estudantes, a avaliação desta aprendizagem e a mediação pedagógica por parte dos professores e tutores, são fatores importantes a serem considerados quando se trata da qualidade de um curso a distância.
A partir deste contexto e pensando na qualidade dos cursos oferecidos nesta modalidade, o objetivo deste artigo é refletir sobre a importância do conceito de interação e a sua relação com a construção do conhecimento em ambientes virtuais de aprendizagem, na educação a distância.
Este artigo está organizado em quatro seções, além da Introdução. A seção 2 apresenta os conceitos teóricos que fundamentam as reflexões apresentadas, na seção 3 é apresentado a metodologia e estudo de caso com uma turma da graduação a distância. A seção 4 apresenta as considerações finais, e em seguida, as referências bibliográficas são relacionadas.

2. Fundamentação Teórica

Quando o assunto é a construção do conhecimento na educação a distância faz-se necessário ter em mente conceitos que são importantes para que possamos compreender o processo de aprender a distância e o aprender mediado pelas tecnologias digitais. Neste artigo, são discutidos os conceitos de interação e interação mútua com as suas implicações na aprendizagem dos estudantes. O estudo proposto foi realizado com base em referenciais teóricos que apresentam o conceito de interação e as suas especificidades no contexto da educação a distância.
O autor Multigner (1994) apud Silva (2010) diz que “o conceito de interação vem da física, foi incorporado pela sociologia, pela psicologia social, e finalmente, no campo da informática transmuta-se em interatividade”. Pode-se observar que o conceito de interação possui diferentes definições em cada área do conhecimento, e que na informática modifica-se para o que se tem chamado de “interatividade”.
Mas o que a interação e/ou a interatividade podem contribuir para a aprendizagem na educação a distância ?
A modalidade de ensino chamada de “educação a distância” pode ser definida como sendo “o processo no qual a interação entre educadores e educandos busca superar limitações de espaço e tempo com a aplicação pedagógica de meios e tecnologias da informação e da comunicação objetivando a qualidade do ensino e da aprendizagem”. É importante observar que o objetivo desta modalidade de ensino, segundo Franco (2010), é a qualidade do ensino e a aprendizagem dos estudantes. A educação a distância para ser de qualidade, garantir a construção do conhecimento, e consequentemente, a aprendizagem dos estudantes, precisa partir de pressupostos que consideram o diálogo como mencionado na educação dialógica de Freire (1982).
Considerando que a construção do conhecimento parte  do pressuposto de que o estudante tenha aprendido algo, e que para aprender, o estudante precisa desenvolver-se, é importante salientar o que Piaget (1972, p.11) afirma quando diz que “o desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo que se relaciona com a totalidade de estruturas do conhecimento. A aprendizagem, em geral, é provocada por situações externas. O desenvolvimento explica a aprendizagem, e é um processo essencial onde cada elemento da aprendizagem ocorre como uma função do desenvolvimento total, portanto, a aprendizagem está subordinada ao desenvolvimento. A aprendizagem somente ocorre quando há, da parte do sujeito, uma assimilação ativa, quando toda a ênfase é colocada na atividade do próprio sujeito”. Piaget, ainda ressalta que sem essa atividade do sujeito, “não há possível didática ou pedagogia que transforme significativamente o sujeito”.
O que Jean Piaget afirma é que o sujeito precisa ser ativo, responsável pela sua aprendizagem, ter vontade e interesse em aprender e continuar aprendendo. E que se o sujeito não aprende, não se desenvolve, não se modifica e não há construção do conhecimento.
Diante do exposto, constata-se a importância do conceito de interação para a aprendizagem do estudante.  Pois, acredita-se que a aprendizagem se constitui a partir do momento em que o estudante se envolve com o objeto em estudo, questionando, refletindo, tendo dúvidas, reforçando certezas, apontando erros e acertos, comparando hipóteses, classificando, selecionando argumentos, e compartilhando as experiências com os seus pares e professores. É a partir desse momento, que o estudante está envolvido com o processo de descoberta do conhecimento novo, que a aprendizagem se efetiva.
O biólogo Humberto Maturana (2001, p.123), ainda diz que “a aprendizagem é a transformação de cada sujeito em virtude de suas interações recorrentes, as quais se efetivam no âmbito social e o conhecimento é sempre adquirido na convivência”.
Na educação a distância, a mediação pedagógica é feita a partir do uso de ambientes virtuais de aprendizagem, que são espaços digitais online para a comunicação entre professores e estudantes. Nesta modalidade quem faz a mediação pedagógica é o professor tutor ou também chamado de tutor a distância.
A professora Eliane Schlemmer (2002) afirma que estes ambientes virtuais são sistemas computacionais que se constituem em um espaço digital virtual que proporciona interações entre os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem online, que são os professores, professores tutores e estudantes.
Os autores Bona, Fagundes e Basso (2011) apontam que os ambientes virtuais precisam ser utilizados para proporcionar novas ferramentas que facilitem a aprendizagem dos estudantes e Eliane Schlemmer (2002) ainda diz que os ambientes virtuais suportam vários estilos de aprendizagem, com ênfase na colaboração e cooperação.
Nesse momento, o papel do professor torna-se fundamental no ambiente virtual, visto que é o professor o responsável pela mediação pedagógica dos processos de interação do estudante no ambiente virtual de aprendizagem. Na educação a distância, tem-se vários termos para designar o papel do professor: professor autor, professor conteudista, professor formador, professor tutor, tutor a distância ou mediador. É importante salientar que não importa o nome dado ao papel do professor, mas é o professor a pessoa responsável por determinar qual será a tecnologia mais adequada em cada situação pedagógica do curso, bem como definir os objetivos com foco no meio de comunicação que será utilizado para a interação entre estudantes-ambiente-professor.
Por isso, na educação a distância, a importância do conceito de interação é observada quando os estudantes conseguem comunicar-se uns com os outros, de uma forma bidirecional, isto é, de uma forma onde todos comunicam-se com todos, além da comunicação com o professor, e que esta comunicação tenha efeito nas estruturas de pensamento, isto é, nas estruturas cognitivas do estudante. Quando a dúvida de um estudante postada no fórum de discussão gera uma comunicação onde o estudante interage, não somente com o professor, mas também com os seus pares, e os seus pares interagem uns com os outros e com o professor, aqui está estabelecida a interação que contribui com a aprendizagem. Quando esta comunicação é bidirecional, se estabelece a construção do conhecimento e a aprendizagem do estudante.  
O conceito de interação é muito importante para os estudos que envolvem a aprendizagem na educação a distância mediada pelas tecnologias digitais de informação e comunicação. Primo (2003, p.97, 2000), conceitua a interação em dois tipos:

“A interação é uma série complexa de mensagens trocadas entre os sujeitos e que há dois tipos de interação: a mútua e a reativa. A interação mútua é a comunicação entre duas pessoas criada pela ação de ambas. Onde uma comunica-se com a outra e as duas comunicam-se entre si (são as ações entre duas pessoas). Trata-se, da inter + ação criada pela ação de ambas. Isto é, a cada encontro, as ações de uma definem (ou redefinem) a relação entre elas”.

Segundo Primo (2000), a diferença entre a interação mútua e a interação reativa é que a primeira constitui uma relação recíproca de trocas entre os atores envolvidos no processo de comunicação. E, a segunda, as relações não se constituem. Neste caso, é constatada uma comunicação unidirecional, onde somente um dos atores age e os outros atores apenas recebem a mensagem sem interferir na comunicação, nem na mensagem. A tabela 1 mostra um paralelo entre os conceitos mencionados e a obra de Freire (1982).

Tabela 1. Analogia entre Paradigmas Educacionais, Mediação Pedagógica, Tipos de Interação e Concepção de Educação


Paradigma Educacional
(Moraes, 1997)
Mediação Pedagógica
(Silva, 2010 e 2012)
Interação
(Primo, 2003)
Educação
(Freire, 1982)
Tradicional
Tutoria   Reativa
Reativa
Bancária
Emergente
Docência Mediadora
Mútua
Dialógica

Constata-se que, para auxiliar na aprendizagem e na construção do conhecimento, a interação mútua é a forma de comunicação que deve prevalecer entre os atores envolvidos, especialmente na Educação a Distância. 
Para os Professores Fernando Becker e Tânia Marques (2007, p. 15), “o conhecimento não acontece pela formação ou atuação do sujeito apenas; nem por pressão do meio externo. Acontece pela interação entre o sujeito, com sua extraordinária complexidade, e esse meio, com toda sua complexidade”. Os autores ainda afirmam que a interação significa, fundamentalmente, “uma ação transformadora do sujeito sobre ele mesmo”.
Para que o processo de construção do conhecimento ocorra há a necessidade de uma “ação do estudante sobre ele mesmo” e uma profunda mudança nas relações que se estabelecem entre professores e estudantes. Essas mudanças passam a ser dinâmicas, com regras estipuladas pelo grupo de estudantes e pelo professor podendo ser rompidas e restabelecidas, caso façam-se necessárias. Nessa concepção, o professor oportuniza o acesso às informações, de forma que o estudante consiga relacionar, os conceitos em estudo, com o que ele (estudante) já sabe. Desta forma, o professor conduzirá o processo de aprendizagem com a postura de alguém que seja o mediador, problematizador, instigador, orientador, articulador do processo. Deve estar claro para o professor que é a “ação do estudante” que realmente é importante no processo de aprendizagem na educação a distância.

Portanto, pode-se afirmar que a construção do conhecimento ocorre a partir das interações mútuas, que são significadas pelo sujeito a partir das relações que ele estabelece entre a nova informação e o conhecimento que possui, ocorrendo dessa forma a aprendizagem.

Na educação a distância, a aprendizagem é efetivada a partir das trocas sociais dos estudantes com os professores e dos estudantes com seus pares. Estas trocas sociais mediadas pela interação mútua nos fóruns de discussão e bate-papos é o que permite a compreensão dos conceitos e aprendizagem.
Na concepção epistemológica interacionista-construtivista-sistêmica (Schlemmer, 2001), o professor não é o centro do processo de ensino e aprendizagem, mas é o mediador desse processo. O conhecimento é construído a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, interagindo com ele, sendo as trocas sociais condições necessárias para o desenvolvimento do pensamento.
Jean Piaget (Piaget, 1972, p.4) afirma que "conhecer é modificar, transformar o objeto, e compreender o processo dessa transformação, e consequentemente, compreender o modo como o objeto é construído”.
Nesse sentido, o professor precisa incentivar os estudantes a interagir, trabalhar em rede, de forma colaborativa e cooperativa, desenvolvendo a autonomia e aos poucos provocar que os seus estudantes adquiram confiança nos parceiros com os quais interagem. Nesse contexto, os ambientes virtuais de aprendizagem são espaços nos quais os sujeitos podem se comunicar e construir conhecimento em conjunto, pois o computador é considerado uma ferramenta de desenvolvimento cognitivo.
Fagundes, Sato e Maçada (1999, p. 79), afirmam que “todos fazemos parte da rede, se um avança todos avançam um pouco, mas se vários avançam, a mudança não só é maior e mais rápida, como permite nova organização. Tanto a autonomia de cada um, como a cooperação entre todos são fundamentais”. Essas redes de comunicação geram laços de realimentação e podem vir a ter a capacidade de se auto-regular e auto-organizar.
As novas modalidades de educação, chamadas de m-learning (móbile learning) , u-learning (ubiquous learning) e b-learning (blended learning) contam com um número expressivo de tecnologias disponíveis para uso pedagógico, assim como a educação a distância (e-learning). Todas estas modalidades de educação, bem como as mais recentes tecnologias digitais, estão disponíveis na sociedade atual e estão sendo utilizadas pelas instituições de ensino, tanto na modalidade presencial, como um suporte tecnológico, quanto na modalidade a distância.
Um aspecto importante a ser considerado quanto à importância do conceito de interação para a aprendizagem é que a maioria dos jovens que estão ingressando no ensino superior, nos dias de hoje, são considerados nativos digitais (Veen e Vrakking, 2009). Isto é, são pessoas que nasceram após a década de 80, tiveram contato desde muito criança com as tecnologias digitais, pertencem a redes sociais e fazem uso destas redes para resolver problemas. Logo são pessoas que não pensam de forma linear. Estes jovens pensam em rede e de maneira mais colaborativa do que as gerações anteriores.
Portanto, percebe-se a necessidade de uma mudança de paradigma educacional: os estudantes não são mais os mesmos de anos atrás. A autora Moraes (1997), afirma que no ensino tradicional, a aprendizagem dos estudantes está fortemente relacionada aos conteúdos disciplinares. Os conteúdos ensinados são resultados das disciplinas e considerados como conhecimentos a serem transferidos aos estudantes de maneira unilateral. Pode-se observar que anos atrás, a educação foi concebida com base na educação bancária apresentada por Freire (1982) e na “pedagogia da transmissão” discutida por (Aparici e Silva, 2011).
Nos dias de hoje, a educação precisa ser vista como um espaço educativo onde estudantes e professores aprendem juntos, em grupos, em rede. Por isso, no paradigma educacional emergente (Moraes, 1997), a aprendizagem é o processo mental pelo qual os estudantes constroem conhecimentos a partir de uma “ação do sujeito” sobre o objeto em estudo. O conhecimento é a interpretação dos resultados destas “ações” e a educação passa a ser dialógica como define Freire (1982). Neste paradigma, trabalha-se a “pedagogia da interatividade” defendida por (Aparici e Silva, 2011) onde comunicar não é transmitir informações.
Como pode ser observado, o conceito de interação é citado por vários autores das áreas da psicologia e pedagogia, como sendo um aspecto importante a ser considerado quando se trata de aprendizagem e desenvolvimento humano.
A seção seguinte apresenta um estudo de caso que faz a análise do desempenho de estudantes virtuais em uma turma a distância. Esta análise é realizada a partir das interações nos fóruns de discussão, no ambiente virtual Moodle.  

3. Metodologia

Esta seção apresenta um relato de caso para análise e reflexão sobre a importância do conceito de interação mútua na educação a distância. Este caso analisa três turmas, de uma atividade acadêmica, da graduação a distância, nos períodos de 2011/1 a 2012/1. A atividade acadêmica é oferecida para o primeiro semestre do curso e se efetiva em um bimestre definido em nove semanas letivas. Foi planejada com encontros semanais síncronos, com duração de uma hora, e suporte tecnológico da ferramenta Chat, do ambiente virtual Moodle. Além dessa ferramenta de interação e comunicação, outras ferramentas foram utilizadas, tais como: fórum de discussão, mensagem individual, e-mail e ferramenta para webconferência. A ferramenta fórum de discussão está disponível em cada módulo de estudo, onde são discutidos os conceitos, as dúvidas e as certezas daquele módulo. A ferramenta mensagem individual está disponível para troca de mensagens individuais entre o professor tutor com os estudantes ou entre os próprios estudantes.

Para início deste estudo, foi considerado o total de estudantes de cada turma (matriculados), o total de estudantes que obtiveram aprovação por média (aprovados) e o total de estudantes que não obtiveram aprovação (reprovados). A tabela 2 apresenta estes totais nas três turmas:


Tabela 2. Total de estudantes matriculados, aprovados e reprovados

Situação dos Estudantes
Turma 2011/1
Turma 2011/2
Turma 2012/1
Matriculados
63
88
65
Aprovados
15
52
30
Reprovados
48
36
35

A tabela 3 apresenta o percentual de aprovação e reprovação das três turmas analisadas, e o respectivo período letivo. Observa-se que a turma 2011/1 teve um índice de reprovação alto e que as turmas seguintes tiveram índices melhores no que diz respeito à quantidade de estudantes aprovados e reprovados. É importante salientar que a oferta desta atividade acadêmica na modalidade a distância teve início no ano de 2010/1 e que em 2011/1 estava fazendo um ano desta oferta. Isto mostra que os professores ainda estão em processo de capacitação e formação docente, e que com a experiência de semestres anteriores, os professores tutores foram tendo uma melhor capacitação pedagógica e uma melhor apropriação do que é ser um professor tutor a distância. Esta melhoria se reflete em índices melhores de aproveitamento no desempenho acadêmico dos estudantes, como pode ser observado na tabela 3.

Tabela 3. Percentual de aprovação e reprovação

Situação dos Estudantes
Turma 2011/1
Turma 2011/2
Turma 2012/1
Aprovados
23.81%
59.09%
46.15%
Reprovados
76.19%
40.91%
53.85%

A análise do desempenho dos estudantes mediante analogia com o total das interações no ambiente virtual foi realizada com a turma do período 2011/2. A tabela 4 apresenta os seis primeiros estudantes que tiveram o maior número de entradas e cliques no ambiente virtual e a sua nota final na atividade acadêmica.
É importante salientar que a nota final é calculada a partir da média ponderada entre a produção do bimestre no ambiente virtual (chamada de Grau A) e a prova presencial (chamada de Grau B) realizada no polo ao qual o estudante está matriculado. Segundo os critérios e normas de avaliação da aprendizagem, dos estudantes da modalidade a distância, a produção do bimestre (Grau A) tem peso de 30% na nota final e a prova presencial (Grau B), peso de 70%.

O que pode ser observado na tabela 4, é que nem todos os estudantes que mais entraram e clicaram no ambiente virtual, foram os que obtiveram as melhores notas finais na atividade acadêmica. Constata-se então que, a quantidade de entradas e cliques no ambiente virtual não garante os melhores desempenhos acadêmicos nas avaliações presenciais.

Tabela 4. Total de cliques realizados no ambiente virtual na turma de 2011/2

Nota Final
Total de Cliques no ambiente virtual
9,2
2.143
6,8
1.653
7,8
1.458
9,5
1.363
6,7
1.358
6,5
1.332

Neste caso, observa-se que a quantidade de acessos e cliques no ambiente virtual, configurada de uma forma reativa, conforme o conceito de interação reativa de Primo (2003), não contribui para a construção do conhecimento, e tão pouco para a aprendizagem. Isto quer dizer que, mesmo o estudante tendo entrado no ambiente virtual um maior número de vezes do que o comparado com outros estudantes, não garante a aprendizagem na educação a distância.

Desta forma, é possível constatar a importância do conceito de interação mútua no ambiente virtual, mediada pelo professor tutor, a partir de uma metodologia baseada na docência mediadora e não a tutoria reativa, ambas definidas por Silva (2010).

4. Considerações Finais

Este artigo teve como objetivo mostrar a importância da interação mútua na construção do conhecimento na educação a distância. Para isso foi feito uma análise comparando o aproveitamento final dos estudantes (conceitos/notas) com a quantidade e qualidade das interações no ambiente virtual de aprendizagem. As interações foram observadas a partir da participação dos estudantes nos fóruns de discussão, chats, mensagens individuais e acessos aos materiais didáticos. A partir deste objetivo foi definida uma turma da graduação a distância, do período 2011/2, para o estudo de caso.

A quantidade das interações foi analisada pelo número de acessos que o estudante fez ao ambiente virtual e ao material didático e a qualidade a partir da consistência das mensagens e das inter-relações entre os sujeitos nos fóruns de discussão.

A partir das análises realizadas foi possível concluir que a interação constante entre professor, tutor e estudantes virtuais é potencializadora da aprendizagem dos estudantes, mas não é decisiva. Isto quer dizer que nem todo estudante que entrou e clicou várias vezes no ambiente teve resultados satisfatórios nas avaliações. Porque o estudante pode ter apenas feito vários acessos, feito upload dos materiais, mas não tendo compreendido-o. Neste caso, constata-se que houve apenas uma comunicação chamada de interação reativa.

A interação somente será importante no processo de construção do conhecimento do estudante virtual se for uma interação mútua, a partir de uma  docência mediadora, numa relação de diálogo entre professor tutor e estudantes.

Desta forma, pode-se concluir que a quantidade de acessos não garante aprendizagem, nem tão pouco a construção de conhecimento. A interação somente será importante e significativa quando acontecer a partir de uma comunicação bidirecional entre os atores envolvidos no processo de aprendizagem.

Por outro lado, constatou-se também, que os estudantes que apresentaram melhor desempenho acadêmico, foram os estudantes que mais compartilharam as suas dúvidas e incertezas em relação ao tema estudado. Consequentemente, estes estudantes foram os mais participativos e os que mais valorizaram os processos de comunicação e interação entre os professores e seus pares.

Portanto, é muito importante salientar, que os planejamentos pedagógicos de novos cursos oferecidos na modalidade a distância, devem priorizar atividades que contemplem a interação mediada pelo professor tutor com os seus estudantes virtuais. Estas atividades podem ser a partir do uso das ferramentas da Web 2.0 incorporadas no ambiente virtual, além de uma formação docente consistente conscientizando os professores tutores para uma nova postura diante do estudante virtual, uma postura mediadora e pautada no diálogo.

Referências

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